É o consumo excessivo e prolongado do álcool ocasionado por um
vício de ingestão excessiva de bebidas alcoólicas, chegando ao ponto de
interferir na vida pessoal, familiar, social ou profissional da pessoa e
levando até mesmo à morte. Os hábitos de consumo do álcool diferem
sensivelmente entre homens e mulheres, mas os homens consomem mais. No Brasil
os índices de alcoolistas variam, mas os estudos indicam que a média está em
torno de 3 a 6% da população, sendo cerca de 5 vezes mais comum em homens de 30
à 49 anos. No entanto, a idade de início do consumo é cada vez mais precoce e
assiste-se ao aumento do consumo nos jovens e nas mulheres.
Apesar
do abuso do álcool ser um pré-requisito para o que é definido como alcoolismo, para
a maioria das pessoas, o consumo de álcool gera pouco ou nenhum risco de se
tornar um vício. Existem variantes do
alcoolismo e para que se possa diferenciar consumo de dependência, a Organização
Mundial da Saúde (OMS) classificou os consumos de álcool em:
- Consumo de risco: consumo que
pode vir a implicar dano físico ou mental se esse consumo persistir.
- Consumo nocivo: consumo que
causa danos à saúde, quer físicos quer mentais. Todavia não satisfaz os
critérios de dependência.
- Dependência: padrão de
consumo constituído por um conjunto de aspectos clínicos e comportamentais que
podem desenvolver-se após repetido uso de álcool, como desejo intenso de
consumir bebidas alcoólicas; descontrole sobre o seu uso; continuação dos consumos
apesar das consequências; uma grande importância dada em consumir as bebidas
quando se deveria priorizar outras atividades e obrigações; aumento da
tolerância ao álcool (necessidade de quantidades crescentes da substância para
atingir o efeito desejado ou uma diminuição acentuada do efeito com a
utilização da mesma quantidade) e sintomas de privação quando o consumo é
descontinuado.
Com
exceção do tabagismo,
o alcoolismo é um dos problemas mundias que mais traz custos para os países do
mundo inteiro do que todos os problemas de consumo de droga combinados. É uma
doença que pode prejudicar não somente a pessoa que o consome, pois muitas
vezes pode originar comportamentos violentos. Existem alguns fatores que
geralmente contribuem para que uma pessoa consuma álcool e consequentemente
este uso se transforme em alcoolismo. Entre estes fatores estão o ambiente
social em que a pessoa vive, a saúde emocional e psíquica, e a predisposição
genética. Listamos alguns dos motivos que podem levar uma pessoa que consuma
esta droga ao alcoolismo:
- História familiar
relacionada com o alcoolismo;
- Ambiente sociocultural.
A integração em famílias ou em meios sociais propensos ao consumo de álcool
(ter de frequentar festas, reuniões sociais, etc.);
- Situações imprevisíveis
de rotura na vida quotidiana;
- Distúrbios emocionais –
pessoas deprimidas ou ansiosas;
- Conflitos entre os pais,
divórcio, separação ou abandono;
- Dificuldades de
adaptação;
- Necessidade de álcool
para aceitar a realidade;
- Tendência a fugir às
responsabilidades;
- O individuo sofre de
angústia, é agressivo resiste mal às frustrações e às tensões
- O nível de consciência
tende a levá-lo a uma conduta impulsiva;
- Negligência perante a
família;
- Frequentes perdas de
emprego;
- Problemas financeiros;
- Agressividade perante a
sociedade;
- Dificuldade em colaborar
com as pessoas que querem o ajudar;
Todos
estes motivos podem ser precursores do alcoolismo (fatores de risco), mas para
que se possa identificar este problema, é importante estar atento também aos
seguintes comportamentos e sintomas:
- O indíviduo bebe muito em ocasiões sociais;
- Tem episódios de amnésia ou blackouts
frequentes – quando, no dia a seguir, acorda sem nenhuma memória ou recordação
da noite anterior ou de ter ingerido álcool em excesso;
- Utiliza subterfúgios para esconder a bebida
alcoólica, como usar garrafas ou embalagens de bebidas não alcoólicas ou
esconder as garrafas para que ninguém à volta perceba;
- Irrita-se facilmente e torna-se agressivo
verbalmente, com declarações de rejeição da dependência da bebida;
- Tem medos, comportamentos obsessivos,
sentimentos de perseguição contra si próprio ou ciúmes em relação ao cônjuge;
- Sente cansaço, insónias, disfunções
sexuais, depressão, ansiedade;
- Podem ocorrer fraturas, quedas, queimaduras
no corpo ou mesmo convulsões sem causa aparente.
O
alcoolismo além de prejudicar quase todas as áreas da vida de uma pessoa que
sofra desta doença, por mais difícil que seja de aceitar, seu próprio organismo
é o mais afetado. Veja alguns dos problemas que o consumo
excessivo e prolongado do álcool pode gerar:
- No tubo digestivo e no estômago: irritação
da mucosa gástrica, o que pode provocar inflamação e ulceração e também diminui
as secreções, ou seja, inibe a transformação dos alimentos. O álcool pode
causar também esofagites e gastrites.
- No fígado: neste órgão ocorre um processo
conhecido como a cirrose alcoólica em que as células do fígado vão desaparecendo,
além de Hepatite alcoólica.
- No sistema nervoso central: o álcool
perturba o funcionamento normal deste sistema. No primeiro estado, a pessoa
após ter bebido, parece ter um comportamento normal, mas a rapidez e a precisão
dos reflexos estão já um pouco menores do que o normal. Já no segundo estado,
ocorre a alteração dos centros inibidores, em que a pessoa experimenta uma
sensação de bem-estar, de euforia, de excitação, havendo um descontrole na
fala, no andar, na audição e na visão. No terceiro estado, acentuam-se os
sintomas, havendo uma imprecisão de movimentos. E por fim, no quarto estado,
podem ocorrer alucinações, excitação motora desordenada, perda da
sensibilidade, perda da consciência e pode em alguns casos levar a violência.
- Os alcoólicos tornam-se mais susceptíveis a
infecções;
- Afeta o desejo sexual e pode levar à
impotência;
- Nas mulheres, leva à diminuição da menstruação,
infertilidade e afeta certas características sexuais femininas;
- Nos homens, pode ocorrer a diminuição dos
hormôneos masculinos e ocorrer o atrofiamento das células produtoras de
testosterona.
Ainda há inúmeros problemas para a saúde que esta droga causa,
entre eles estão:
- Desnutrição;
- Alterações sanguíneas – ao nível dos
glóbulos vermelhos, glóbulos brancos e plaquetas;
- Úlcera péptica;
- Pancreatite crónica ou crises de
pancreatite aguda;
- Esteatose hepática;
- Hipertensão arterial;
- Cardiomiopatia alcoólica;
- Acidentes vasculares cerebrais;
- Alterações endócrinas e metabólicas;
- Alterações musculoesqueléticas - como a
osteoporose;
- Alterações dermatológicas;
- Maior prevalência de tuberculose e de
infecções bacterianas;
- Maior prevalência de cancros a nível de
todos os órgãos;
- Síndrome de abstinência;
- Delirium tremens;
- Síndrome de Wernicke;
- Síndrome de Korsakov;
- Demência alcoólica.
Além destes fatores, o consumo de álcool
contribui mais do que qualquer outro fator de risco para a ocorrência de
acidentes domésticos, laborais e de condução, assim como também violência,
abusos e negligência infantil, conflitos familiares, incapacidade prematura e
morte. Relaciona-se com o surgimento e/ou desenvolvimento de numerosos
problemas ou patologias agudas e crónicas de carácter físico, psicológico e
social, constituindo, por isso, um importante problema de saúde pública.
O
alcoolismo possui um forte poder de influência social e os alcoólicos tendem a
evitar este estigma. Esta defesa natural para a preservação da auto-estima
acaba por proporcionar atrasos na intervenção terapêutica. Para iniciar o
tratamento é necessário que o alcoólico mantenha a sua auto-estima mas sem negar
a sua condição. O tratamento do alcoolismo é complexo e depende do estado do
paciente e de seu engajamento no processo de cura. Reconhecer que precisa de
ajuda para um problema com álcool talvez não seja fácil para quem sofre deste
problema, porém, é importante ter em mente que, o quanto antes vier a ajuda,
melhores serão as chances de uma recuperação bem sucedida. E ainda, identificar
um possível problema com álcool gera uma compensação enorme, uma chance de
viver com mais saúde. É importante que quando o alcoólico for ao medico,
responda todas as perguntas da maneira mais completa e honesta possível. Para
que então, após o questionário e também o exame físico, se ficar concluído que
há uma dependência do álcool, o mesmo seja encaminhado à um especialista.
A
natureza do tratamento depende da gravidade do alcoolismo do indivíduo e dos
recursos disponíveis na comunidade. O tratamento pode incluir a desintoxicação
(o processo de retirar o álcool do sistema de uma pessoa com segurança); tomar
medicamentos receitados pelo médico para ajudar a evitar o retorno à bebida uma
vez que já parou; fazer reabilitação para que o paciente possa reaprender a
viver sem o álcool; e aconselhamento individual e/ou em grupo.
Há
tipos de aconselhamento promissores que ensinam a recuperar dependentes de
álcool e a identificar situações e sentimentos que levam à necessidade de beber
e de descobrir novas maneiras de lidar com a ausência do álcool. Qualquer um
destes tratamentos podem ocorrer tanto em um hospital, como em tratamento
residencial ou ambulatorial (o paciente fica em sua casa e vai às consultas,
até todos os dias). Como o envolvimento com a família é importante para a
recuperação, muitos programas oferecem aconselhamento conjugal e terapia
familiar como parte do processo de tratamento. Alguns programas podem oferecer
para o dependente recursos vitais da comunidade como a assistência legal,
treinamento de trabalho, creche e aulas para pais.
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